sua defesa

15 de nov. de 2012

A emergência de um movimento de massa ultraconservador no Brasil

Rudá Ricci e o movimento ultraconservador
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Um dos criadores do Partido dos Trabalhadores,renomado sociólogo,foi entrevistado pelo IHU – Humanitas Unisinos,falando sobre as expectativas para o governo Dilma,analisando a democratização da informação e o controle social das políticas públicas,depois tratou do livro “Lulismo:Da Era dos Movimentos Sociais à Ascensão da Nova Classe Média Brasileira” e,por fim,refletiu sobre o protagonismo dos movimentos sociais.


Ao lançar seu livro sobre o lulismo,Rudá Ricci explicou como o conceito de lulismo foi criado e como ele se fundamenta,explica a organização da nova classe média atual e retoma a trajetória dos movimentos sociais. Essas são as três variáveis nas quais Ricci se baseou para escrever seu livro sobre o fenômeno surgido com a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder.
“Os movimentos sociais dos anos 1980 questionavam a institucionalidade pública e se recusavam a participar de qualquer fórum de negociação,porque acreditavam que isso era cooptação”,definiu o professor. Eles eram,especialmente,contestatórios,e isto não mudou com a criação do PT. Isso porque o Partido dos Trabalhadores,quando foi criado,“não veio para administrar o capitalismo”. Esse era o discurso dos anos 1980.

Ricci explicou que foi a partir de 1994 que o PT entrou na lógica do pragmatismo. “Depois da campanha de 1989,houve um momento de captura dos movimentos sociais,e,então,tivemos sindicalistas e lideranças das organizações à esquerda assumindo funções da direção do partido e assim,o PT mudou”,disse. E o sociólogo fala isso com propriedade,uma vez que foi um dos criadores do partido do qual se desligou em 1994. Nesse ano,segundo ele,a campanha à presidência já estava focada na vitória e não no programa e muito menos no método e,então,em 1998 o PT se configurou como uma empresa política. “A partir daí o partido perdeu o contato com as ruas e o marketing assumiu o comando”,segundo sua análise pessoal.
A crise dos movimentos sociais começou,conforme afirmou Ricci,quando os mesmos foram se inserindo nos partidos políticos,criando,desta forma,o esvaziamento de alguns movimentos. “Com a crise de financiamento externo nos anos 1990,houve então um êxodo de lideranças sociais para a máquina política e várias entidades pastorais e movimentos sociais caminharam para se transformar em ONGs como estratégia de sobrevivência”,explicou.

Nasceu,então,conforme vai explicando,o lulismo,um movimento natural posto na segunda metade dos anos 1990 que tem como concepção o gerenciamento do Estado Brasileiro. E foi Lula quem pensou e criou essa ideia quando organizou o Instituto da Cidadania em paralelo ao PT. “Essa foi uma estrutura do Lula para gerir o país”,diz Ricci. E o lulismo,define o sociólogo,tem três matrizes claras. A primeira é o pragmatismo do sindicalismo metalúrgico brasileiro. “Este sindicalismo é centralizador,muito técnico e com uma cultura autoritária muito forte,grande parte é machista”,definiu. Assim,esse movimento tornou-se um sindicalismo de negócio,onde negociam as pautas e cedem em função de ganhos concretos.

A segunda matriz é o bloqueio da esquerda mais radical em favor de um grupo hegemônico que absorve o controle partidário. “Por isso,este não é um governo populista”,diz Ricci que explica que o populismo é um conceito fluído e tem como característica o não respeito às mediações. “O lulismo tem uma relação direta com base social e se fortalece a partir das organizações populares”,mas exercendo um certo controle no interior destas organizações.

E a terceira matriz,conforme narra Ricci,é o liberalismo econômico ou respeito ao mercado. “E isso é uma novidade no PT. Lula impôs uma agenda desenvolvimentista que foi configurada a partir da metade da sua segunda gestão”,reflete. E Rudá Ricci define:“O lulismo é um impacto social pelo desenvolvimento”. E o lulismo só se consolida na segunda gestão de Lula com a emergência da nova classe média. “Nós nos tornamos um país de classe média que gerou uma explosão de consumo cujo peso foi o salário mínimo e depois o crédito consignado. O Bolsa Família não gerou a classe média,mas movimentou o comércio”,apontou.

E quem compõe a classe média atual? Segundo Rudá Ricci,essa classe média é composta em grande parte por jovens em geral,que agora conseguem atingir postos intermediários no mercado de trabalho. “Eles não gostam de ler,não estudam,desconfiam dos jornais impressos,assistem só o Jornal Nacional,desconfiam tudo o que é público e desenvolvem uma religiosidade privada”,descreveu. O professor diz ainda que esta fé não tem uma comunidade de irmãos em função da comercialização da religião,pois esta fé é um ato de crença pessoal e o anúncio de que se está no caminho certo é o crescimento pessoal.

Isso tudo vai culminar na emergência de uma classe ultraconservadora,explica o professor. “O maior fenômeno sociológico do Brasil é a classe média. O lulismo é um movimento de paz social na figura paternal do Lula que coloca o Brasil como país potência,mas que faz tudo dentro da ordem. Não temos ruptura. O lulismo tem como último paradoxo a criação não desejada do primeiro movimento de massa ultraconservador do Brasil”,concluiu. E finalizou:“Nós tentamos,a partir dos movimentos sociais criar um partido que,quando entrou na administração pública se perdeu”.

(Fonte:IHU Online – Instituto Humanitas Unisinos)

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